Zito, o Gerente da Vila Belmiro

Zito, o Comandante dos Craques Santistas

Ficha Técnica
Nome: José Ely de Miranda “Zito”
Data de Nascimento: 8 de Agosto de 1932
Data de Falecimento: 14 de Junho de 2015
Local de Nascimento: Roseira – SP
Posição: Volante
Copas que disputou: Suécia 1958, Chile 1962 e Inglaterra 1966
Clubes: Taubaté (1951 – 1952), Santos (1952 – 1968)

 

Um dos líderes em campo, chamado de “Gerente” pelos companheiros, Zito foi um dos jogadores mais representativos da história santista e da Era Pelé.

Natural de Roseria, o volante começou a carreira no Taubaté, time do Vale da Paraíba.

Não demorou muito para sua técnica prevalecer e se tornar titular do “Burro da Central”, apelido da equipe interiorana. Um dia, o ex-jogador e técnico Antoninho foi observar um outro jogador (Hugo), mas a atuação do jovem Zito chamou a atenção e ele foi contratado pela equipe santista em 1952, quando tinha apenas 19 anos.

Na nova equipe, Zito, diminutivo do apelido de infância “Joselito”, demorou algum tempo para garantir definitivamente a vaga de titular, entretanto, ainda como peça importante do elenco, se revezando entre volante e zagueiro. Foi assim que conquistou o primeiro título pelo alvinegro da Vila Belmiro, o Campeonato Paulista de 1955, mas já era titular absoluto no bicampeonato no ano seguinte.

Pelé chegaria ao Santos em 1956, quando Zito se firmava como titular, e o jogador foi peça fundamental do destino para a recepção do futuro craque. Em entrevista para o site da ESPN Brasil, o ex-jogador relembrou que, naquele dia, ele ouviu que o ex-jogador de seleção brasileira Waldemar de Brito estaria trazendo um garoto para o clube. Ele reuniu outros jogadores e foram recepcionar o ex – atleta e ouvir as suas histórias, mas, sem saber, também receberam o maior atleta de todos os tempos.

Além de marcar o início da “Era Pelé”, 1956 foi o ano da estreia de Zito na seleção brasileira, no empate com o Paraguai por 3 a 3.

Com Pelé em campo, aquela equipe do Santos dominaria o cenário paulista, brasileiro e mundial por quase uma década. A conquista que iniciou essa hegemonia foi o Campeonato Paulista de 1958, onde a equipe não deu chance para os adversários, com 26 vitórias em 30 partidas e apenas uma derrota e com Pelé marcando 58 gols do total de 143.

O excepcional futebol apresentado pela equipe fez com que Zito e parte de seus companheiros fossem convocados para a Copa do Mundo daquele ano, na Suécia.

No ano seguinte, o Campeonato Paulista não ficou na Vila Belmiro, mas a força daquela equipe também marcou aquela competição. O torneio ficou conhecido como “Supercampeonato de 1959” devido ao fato que Palmeiras e Santos precisarem disputar três jogos finais, pois o equilíbrio nos dois primeiros jogos foi tanto que resultou em dois empates, 1 a 1 no primeiro e 2 a 2 no segundo. O duelo decisivo foi uma vitória do alviverde por 2 a 1. Contudo, 1959 não foi um ano “perdido” para o time da Vila Belmiro, pois conquistou o Torneio Rio – São Paulo.

Em 1960, o Santos conquista o primeiro dos três Campeonatos Paulistas vencidos na sequência (1960-1961-1962). Em 1961, além do estadual, também conquista o primeiro do pentacampeonato da Taça Brasil, título que rendeu a vaga para a Taça Libertadores do ano seguinte.

E 1962 foi um ano especial e único para Zito, pois o volante conquista seis títulos naquele ano, cinco pelo Santos e um pela seleção brasileiro. Além do tri do Paulista e o Bi da Taça Brasil, ele vence novamente o Torneio – Rio São Paulo e as inéditas Taça Libertadores da América e Mundial Interclubes. Além disto, venceu a segunda Copa do Mundo pela seleção brasileira.

Na sequência, o time não conseguiu sucesso no Campeonato Paulista, que ficou com o Palmeiras, mas vence o título nacional e a segunda Libertadores e Mundial.

Em 1964 e 1965, o time volta a conquistar o campeonato estadual e os dois últimos títulos da Taça Brasil, além de mais um Rio – São Paulo no primeiro ano.

O ano de 1966 não lhe rendeu nenhum título, mas foi chamado para a Copa do Mundo, onde o péssimo planejamento executado (44 jogadores foram convocados para um período de treinamento) prejudicou a equipe. Essa foi a última Copa de Zito.

Na fase final de carreira, os últimos títulos de Zito não poderiam ser outro que daquele que foi o torneio que ele mais conquistou. Em 1967 e 1968, o Santos venceu o Bicampeonato Paulista e, ao final daquela temporada, o “Gerente” se aposentava.

Copa do Mundo

Zito disputou três Copas do Mundo. Na primeira, em 1958, ele começou como reserva na vitória por 3 a 0 sobre a Áustria e o empate por 0 a 0 com a Inglaterra, mas assumiu o posto de titular, ocupado nesses jogos por Dino Sani, na vitória por 2 a 0 sobre a União Soviética.

O volante foi um dos três atletas que não começaram a competição como titular, mas assumiram o posto no decorrer dos jogos e foram decisivos para a conquista. Os outros foram Pelé e Garrincha.

Zito, assim como no Santos, se tornou um dos líderes da equipe e controlando as ações no meio de campo. Com o trio, o Brasil venceu os soviéticos e os demais jogos: Contra o País de Gales, 1 a 0; contra a França, 5 a 2; e contra a Suécia, novamente 5 a 2, e o Brasil conquista a sua primeira Copa do Mundo.

Quatro anos depois, a seleção ia para o Chile para defender o título e o volante, desta vez, entrava em campo como titular, posição que ocuparia por toda a competição.

O início da disputa foi com uma vitória sobre a seleção mexicana por 2 a 0.  O jogo seguinte, um empate sem gols contra a Tchecoslováquia, marcaria aquele grupo, pois, nesta partida, Pelé, o principal jogador, se machuca e desfalca o time pelo resto da Copa do Mundo*.

A última partida da primeira fase provavelmente também foi uma das mais equilibradas do Brasil naquele ano. Jogando contra a Espanha de Puskas, craque da Copa de 1954 pela Hungria e que se naturalizou espanhol, a seleção venceu por 2 a 1 e se classificou para as quartas de finais.

O próximo desafio brasileiro era a Inglaterra, adversário no qual teve dificuldades quatro anos antes. Desta vez, entretanto, conseguiu uma vitória tranquila por 3 a 1.

Na semifinal, a seleção canarinho enfrentava os donos da casa e venceu sem grandes dificuldades pelo placar de 4 a 2.

Na grande decisão o Brasil voltava a encarar o único adversário que não conseguiu vencer, a Tchecoslováquia. Desta vez, porém, o resultado seria diferente. A seleção venceu os europeus por 3 a 1, tendo Zito participação importante, não só nas jogadas no meio de campo, mas também marcando um dos gols da vitória.

Quatro anos depois, Zito era chamado para mais uma Copa do Mundo. A preparação para aquela competição foi uma das principais razões pelo fraco desempenho. Durante os meses que antecederam a disputa, o técnico Vicente Feola convocou Zito e outros 46 atletas para um período de treinamento visando à disputa do mundial. Esta decisão não funcionou como o esperado e, pouco antes do início da disputa, não havia uma equipe titular decidida.

Desta vez, ele não entrou em campo em nenhum dos jogos daquele ano. A estreia foi contra a Bulgária, onde conseguiu a única vitória, pelo placar de 2 a 0. As demais partidas foram duas derrotas. A primeira, para a Hungria, foi 3 a 1 e a outra, para Portugal de Eusébio, novamente 3 a 1 para a equipe europeia.

Com os resultados, a seleção brasileira estava eliminada ainda na primeira fase. Zito nunca mais entraria em campo vestindo a camisa canarinho e, dois anos depois, deixa os gramados, mas com a certeza que deixou uma marca importante na história da seleção brasileira.

Ficha dos Jogos em Copa

Copa do Mundo de 1958 na Suécia

Brasil 3 x 0 Áustria – Zito não jogou
Brasil 0 x 0 Inglaterra – Zito não jogou
Brasil 2 x 0 União Soviética
Data: 15 de Junho de 1958
Local: Estádio Nya Ullevi – Gotteborg
Arbitro: Maurice Guigue (França)
Gols: Vavá (2)

Brasil

Gylmar dos Santos Neves, De Sordi, Bellini, Orlando Peçanha e Nilton Santos; Zito e Didi; Garrincha, Vavá, Pelé e Zagallo. Técnico: Vicente Feola

União Soviética

Yashin, Kessarev, Krigevski; Kuznetsov, Voinov, Tsarev;  A. Ivanov, V. Ivanov, Simoniane, Igor Netto, Illine. Técnico: Gavril Katchalin

Brasil 1 x 0 País de Gales
Data: 19 de Junho de 1958
Local: Estádio Nya Ullevi – Gotterborg
Árbitro: Friedich Spelt (Áustria)
Gol: Pelé

Brasil

Gylmar dos Santos Neves, De Sordi, Bellini, Orlando Peçanha e Nilton Santos; Zito e Didi; Garrincha, Mazolla, Pelé e Zagallo.

País de Gales

Kelsey, Williams, M. Charles; Hopkins, Sullivan, Bowen; Medwin, Hewit, Vernon, Ivor Allchurch, Cliff Jones. Técnico: Jim Murphy

Brasil 5 x 2 França
Data: 24 de Junho de 1958
Local: Estádio Rasunda – Stockholm
Árbitro: Benjamin Mervyn Griffths (País de Gales)
Gols: Vavá (Brasil), Fontaine (França), Pelé (Brasil – 3) e Piantoni

Brasil

Gylmar dos Santos Neves, De Sordi, Bellini, Orlando Peçanha e Nilton Santos;  Zito e Didi; Garrincha, Vavá, Pelé e Zagallo. Técnico: Vicente Feola

País de Gales

Abbes, Kaelbel, Joncquet; Lerond, Panverne, Marcel; Wisnieski, Kopa, Fontaine, Piantoni, Vincent. Técnico: Albert Batteux

Brasil  5 x 2 Suécia
Data: 29 de junho de 1958
Local: Estádio Rasunda – Stockholm
Árbitro: Maurice Guigue (França)
Gols:Liedholm (Suécia), Vavá (Brasil -2), Pelé (Brasil – 2), Zagallo (Brasil) e Simonsson

Brasil

Gylmar dos Santos Neves, Djalma Santos, Bellini, Orlando peçanha e Nilton Santos; Zito e Didi; Garrincha, Vavá, Pelé e Zagallo. Técnico: Vicente Feola

Suécia

Svensson, Bergmark, Axbom; Borjesson, Gustavsson, Parling; Hamrim, Gunar Gren, Simonsson, Liedholm, Skoglund. Técnico: George Raynor

Copa do Mundo de 1962 – Chile

Brasil 2 x 0 México
Data: 30 de Maio de 1962
Local: Estádio Sausalito – Viña Del Mar
Árbitro: Gottfried Dienst (Suíça)
Gols: Zagallo (Brasil) e Pelé (Brasil)

Brasil

Gylmar dos Santos Neves, Djalma Santos, Mauro Ramos de Oliveira, Zózimo e Nilton Santos; Zito e Didi, Garrincha, Vavá, Pelé e Zagallo. Técnico: Aymoré Moreira

México

Carbajal, Del Muro, Cardenas, Sepúlveda; Vellegas, Reyes; Najera, Del Aguilla, Hernandez, Jasso, Diaz. Técnicos: Ignácio “Nacho” Trellez e Alejandro Scopelli

Brasil 0 x 0 Tchecoslováquia
Data: 02 de Junho de 1962
Local: Estádio Sausalito – Viña Del Mar
Árbitro: Pierre Schwinte (França)

Brasil

Gylmar dos Santos Neves, Djalma Santos, Mauro Ramos de Oliveira, Zózimo e Nilton Santos; Zito e Didi; Garrincha, Vavá, Pelé e Zagallo. Técnico: Aymoré Moreira

Tchecoslováquia

Schroif, Lala, Popluhar, Novak, Pluskal, Masopust, Stibranyi, Sherer, Kvasnak, Adamec, Jelinek II. Técnico: Rudolf Vytlacil

Brasil 2 x 1 Espanha
Data: 06 de Junho de 1966
Local: Estádio Sausalito – Viña Del Mar
Árbitro: Sérgio Bustamante (Chile)
Gols: Adelardo (Espanha) e Amarildo (Brasil – 2)

Brasil

Gylmar dos Santos Neves, Djalma Santos, Mauro Ramos de Oliveira, Zózimo e Nilton Santos; Zito e Didi; Garrincha, Vavá, Amarildo e Zagallo. Técnico: Aymoré Moreira

Espanha

Araquistain, Rodriguez, Echevarria, Gravia; Verges, Pachin; Collar, Adelardo, Puskas, Peiró, Gento. Técnico: Helenio Herrera

Brasil 3 x 1 Inglaterra
Data: 10 de Junho de 1962
Local: Estádio Sausalito – Viña Del Mar
Árbitro: Pierre Schwinte (França)
Gols: Garrincha (Brasil – 2), Hitchens (Inglaterra) e Vavá (Brasil)

Brasil

Gylmar dos Santos Neves, Djalma Santos, Mauro Ramos de Oliveira, Zózimo e Nilton Santos; Zito e Didi., Garrincha, Vavá, Amarildo e Zagallo. Técnico: Aymoré Moreira

Inglaterra

Springett, Armfield, Moore, Wilson; Greaves, Norman, Flowers; Hitchens, Douglas, J. Haynes, Charlton. Técnico: Walter Winterbottom

Brasil 4 x 2 Chile
Data: 13 de Junho de 1962
Local: Estádio Nacional – Santiago
Árbitro: Arturo Yamazaki (Peru)
Gols: Garrincha (Brasil – 2), Toro (Chile), Vavá (Brasil – 2), L. Sanchez (Chile)

Brasil

Gylmar dos Santos Neves, Djalma Santos, Mauro Ramos de Oliveira, Zózimo e Nilton Santos. Zito e Didi;Garrincha, Vavá, Amarildo e Zagallo. Técnico: Aymoré Moreira

Chile

Escuti, Eyzaguirre, Raul Sanchez, Rodriguez; Contreras, Rojas; Ramirez, Toro, Landa, Tobar, L. Sanchez. Técnico: Fernando Riera

Brasil 3 x 1 Tchecoslováquia
Data: 17 de Junho de 1962
Local: Estádio Nacional – Santiago
Árbitro: Nicolai Latichev (União Soviética)
Gols: Masopust (Tchecoslováquia), Amarildo (Brasil), Zito (Brasil) e Vavá (Brasil)

Brasil

Gylmar dos Santos Neves, Djalma Santos, Mauro Ramos de Oliveira, Zózimo e Nilton Santos; Zito e Didi, Garrincha, Vavá, Amarildo e Zagallo. Técnico: Aymoré Moreira

Tchecoslováquia

Schroif, Tichy, Popluhar, Novak; Pluskal, Masopust; Pospichal, Sherer, Kadabra, Kvasnak, Jelinek II. Técnico: Rudolf Vytlacil

 

Copa do Mundo de 1966 – Inglaterra

Zito não foi titular em nenhum jogo.

Brasil 2 x 0 Bulgária
Brasil 1 x 3 Hungria
Brasil 1 x 3 Portugual

Fora de Campo

 

Mesmo após se aposentar, a vida de Zito permaneceu muito ligada ao Santos. Ele atuou como dirigente da equipe em muitos períodos diferentes, sendo, os mais recentes, ligado às categorias de base, onde teve papel importante na formação das últimas gerações vitórias oriundas dos times menores.

Como dirigente, Zito conquistou dois títulos. O primeiro foi o Campeonato Paulista de 1978, onde fazia parte do grupo do então presidente Rubéns Quintas Ovalle, com a equipe que, pela primeira vez, ficou conhecida como “Meninos da Vila”.

O outro foi em 1984, outro estadual, desta vez sob a presidência de Milton Teixeira. Neste período, ele dividia a função de diretor de futebol e vice-presidente do Santos.

Mais recentemente, ele atuou nas categorias de base do clube, ajudando na criação dos novos “Meninos da Vila”. Ele trabalhou no período em que atuava o dupla Diego e Robinho nas categorias menores e foi o principal responsável por observar e contratar Neymar, último grande craque revelado pelo clube. Em entrevista para o programa Arena SporTV, ele lembrou esta história: “Um torcedor do Santos, o Alemão, falou para eu ir ver o Neymar jogar. “É um menino, mas você vai gostar”, ele me disse. Fui com um amigo e o Neymar me encheu os olhos. Era futebol de salão. Saímos dali e fui falar com o presidente (Marcelo Teixeira). Falei que ele tinha que ser contratado imediatamente, antes que outros o façam. Ele tinha 11 anos. Aí fizemos um contrato longo com ele. Ele foi pequenininho para lá. E aí deu no que deu. Quando você vê um jogador que gosta, é difícil que não dê certo”.

O ex – volante Zito faleceu no dia 14 de Junho de 2015.  Ele recebia tratamento médico em casa após sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC) quase um ano antes.

*Naquela época, as substituições não eram permitidas. Por isso, Pelé permaneceu em campo apenas para fazer número.

Fonte da Foto: http://www.santosfc.com.br/historia/idolos/detalhes.asp?i=188

Deixe um comentário